É neste artigo que cada uma de nós dá a sua opinião, exprime os seus sentimentos em relação a este tema, a este trabalho.
Bem, estou sentada na minha cama, a escrever o texto onde digo o que penso e sinto sobre o trabalho de Área de Projecto, um trabalho bastante interessante.
Contudo, estou um pouco insegura e receosa, tenho medo de falhar. Tenho medo de ferir alguém pela forma como falo ou por alguma acção inconsciente que faça.
Questiono-me várias vezes sobre: O que sentirão as pessoas com quem vou falar? Qual é a forma mais correcta de falar com elas? Será que é fácil dar o seu testemunho? Perguntar-se-ão: Porquê? Porquê eu? O que estará por debaixo de tanta fragilidade, na doença ou na cura?
No fundo, são pessoas iguais a todas as outras, só que o destino ou outra coisa qualquer pregou-lhes uma rasteira, uma rasteira à qual estas pessoas têm de lutar com a maior das forças.
Penso que por detrás de um rosto triste e sofrido, está uma enorme vontade de viver.
Sei que vou aprender bastante com o trabalho, mas por enquanto a ansiedade de trabalhar, a insegurança, o receio e o medo fazem parte de mim.
No final do trabalho só espero ter um balanço bastante positivo. Não me posso ir abaixo, tenho que ter força para transmitir a quem precisa.
Estamos no início do trabalho, sinto-me entusiasmada, mas não consigo por de parte este sentimento de dúvida, este medo de enfrentar o que vem por entre tantos quartos de hospital e salões de cabeleireiro.
Por vezes olho-me ao espelho, e tenho dificuldade de fazer a minha auto-imagem, de pintar o meu retrato.
O que sentirão eles? O que pensarão eles?
Será que têm coragem de se olhar ao espelho? Será por não conseguirem pintar o seu retrato? Ou por já terem os seus retratos numa exposição, chamada sociedade actual?
Assumo o meu medo de magoar e sofrer…
Tenho medo de magoar como me magoam nos momentos em que me sinto inferiorizada em relação a pessoas tão normais quanto eu.
Tenho medo de sofrer por olhar à minha volta e ver que muita gente sofre e existe quem não tenha sequer conhecimento da sua dor.
É complicado explicar o quanto tenho que me esforçar, para mostrar a dificuldade que cada uma destas pessoas sente, todos os dias em que se levantam, para enfrentar o mundo de cabeça erguida, por vezes descoberta.
A nossa sociedade actual tem uma imagem, mas não alcança um rosto, um sofrimento, uma lágrima, uma sala de quimioterapia ou mais uma sessão de radioterapia.
A grande limitação não está nos utentes, está em nós. Começa na nossa maneira de olhar e acaba na nossa maneira de agir.
A cada imagem deveria corresponder um rosto e não um julgamento.
De regresso às aulas…
Uma nova etapa começa…
É necessário escolher tema para a disciplina de Área de Projecto. Surgiram as mais variadas ideias e algumas bastante interessantes. Porém, uma despertou imenso a minha atenção e sensibilidade. Encantou-me o facto de poder falar-vos da história de pessoas que tiveram ou têm cancro: os seus sentimentos, pensamentos, auto-imagem, e muitos outros aspectos importantes para essas pessoas e que nós, cidadãos alheios, não nos apercebemos.
A sociedade como um todo dá demasiada relevância, a meu ver, à aparência física, esquecendo-se, na maior parte das vezes, do que está por detrás de um rosto. É idealizada de imediato uma imagem que não corresponde na íntegra à realidade dessas pessoas.
O cancro provoca modificações físicas, é certo, mas também modificações psicológicas.
Os porquês, os medos, as dúvidas tornam-se constantes nas suas vidas… No entanto, a força, a coragem e a determinação que procuram e demonstram continuamente é algo que admiro e dou muito valor.
A verdade é que a fraca aparência esconde, às vezes, muita fibra!
Apesar deste meu encanto, receio que o interesse por este tema possa causar-me alguma instabilidade emocional e possa, de certo modo, ferir essas pessoas.
Aqui estou eu, na paz e no silêncio do meu quarto, a pensar como hei-de exprimir os meus sentimentos em relação a este trabalho: “Auto-imagem de doentes pós situações cancerígenas”.
Quando falamos em auto-imagem, falamos certamente de uma visão que temos de nós próprios, do nosso aspecto, da nossa aparência, mas será que aqueles que todos os dias lutam para vencer um cancro por entre corredores de hospitais e sessões de quimio e radioterapia têm essa mesma visão?
Sinto-me entusiasmada e sensibilizada para compreender os sentimentos, os medos e os receios destas crianças e destes adultos por quem a vida, por algum motivo, deixou de sorrir, pois nem sempre é fácil acreditar e aceitar a verdade.
A vida nem sempre corre da maneira que a gente quer e é por isso que temos que estar preparados “para o que der e vier”. Erguer os braços, levantar a cabeça, para continuar a longos passos, o caminho da nossa vida...
É preciso viver-se intensamente o dia de hoje pois o ontem já passou e o amanhã pode não vir.
Espero com a realização e exposição deste trabalho, sensibilizar todas as pessoas para um problema que, cada vez mais, faz parte da nossa sociedade e ao qual não podemos, por vezes, fugir.
Pedimos agora a quem queira dar também a sua opinião em relação a este tema que deixe o seu comentário.